Backer relança rótulo que teve lote contaminado com festa e zero sensibilidade

A cervejaria mineira Backer fez uma festa no último sábado (17) para marcar o relançamento do rótulo Capitão Senra, cerveja que já constava no portfólio da fábrica. Essa seria uma notícia prosaica se fosse com qualquer outra cervejaria; ou se fosse com a Backer, até 2019. Mas com a Backer, em 2020, talvez seja possível dizer, no mínimo, que houve certa precipitação no lançamento.

Refrescando a memória: a Backer se envolveu no maior caso de contaminação de cervejas no Brasil na virada do ano. Dez pessoas morreram e outras dezenas apresentaram sinais de intoxicação sérios. Em julho, 11 pessoas foram indiciadas após investigação da polícia, sete delas por homicídio culposo.

A maioria dos lotes contaminados (com dietilenoglicol) era da cerveja Belorizontina, mas também foram encontradas substâncias em outros rótulos, como Capitão Senra (uma amber ale com boa presença de malte nos bons tempos). A cerveja teria sido fábricada nas instalações da Germânia, em São Paulo, já que o espaço da Backer ainda não poderia ser usado.

Erro 1: se a cervejaria considera que este é o momento (ainda que pareça muito cedo) para voltar ao mercado, teve sensibilidade zero ao usar um nome que teve rótulo contaminado. Mudar a imagem do rótulo não altera isso.

Erro 2: fazer o relançamento no Templo Cervejeiro Backer, bar que fica na entrada da fábrica, com uma festa foi visto como uma punhalada para famílias envolvidas no caso.

Se quer retornar ao mercado, onde já foi um dos principais nomes no cenário artesanal, a Backer precisa se reinventar com mais sensibilidade, muito mais sensibilidade.

Em reportagem do jornal mineiro O Tempo, Eliana Reis, cujo marido morreu, vítima de intoxicação, falou indignada. “As imagens que tenho na cabeça são do meu marido desmanchando. Ele urrava de dor em seus últimos dias de vida, mas não saía o som da voz dele. Agora a Backer dá uma festa? Gratuita? Eles não tiveram a decência de dar os pêsames, e agora comemoram? Comemorar o quê?”

Na internet, foram muitos os comentários de indignação com a festa de relançamento.