Após polêmica, Cervejaria Dogma lança série criada por sommeliers negros
Em junho do ano passado, a Dogma se viu envolvida no meio de um das principais polêmicas do setor cervejeiro por conta do rótulo da Cafuza, que, segundo a cervejaria, estava fora de linha há seis meses.
A Cafuza, uma imperial india black ale, trazia o retrato de uma escrava negra, feita pelo conhecido fotógrafo alemão Alberto Henschel (1827-1882) em 1869. “Vocês se lembram dessa foto tirada pelo Alberto Henschel que eu restaurei e colorizei? Pois é, alguém achou que seria uma boa ideia transformar o rosto dessa mulher escravizada, violentada, explorada e subjugada em imagem ilustrativa de lata de cerveja”, postou a colorista Marina Amaral no Twitter.
A polêmica suscitou debates sobre políticas antirracistas no setor. E meio ano depois a cervejaria paulista anuncia o lançamento da série Griot, formada por três rótulos criados em parceria com os sommeliers Glauco Ribeiro, Sara Araújo e Sulamita Theodoro, todos membros-fundadores do coletivo Afrocerva. Na África Ocidental, griot é a pessoa responsável por transmitir conhecimento e sabedoria.
Segundo postagem assinada pelos três sommeliers, todos haviam dialogado com os sócios individualmente antes de serem convidados para construir juntos esse projeto. “Os sommeliers convidaram um artista, João Gabriel, para ilustrar a narrativa que havia sido elaborada, garantindo a leitura adequada para as referências trazida para nossas discussões: filosofia bantu, literatura, com o livro Ponciá Vicêncio, da Conceição Evaristo, e outras abordagens entre filmes, artigos e discussões pautando raça, gênero e classe.”
Quem inaugura o projeto é a cerveja Hantu, uma saison com adição de cajá, caju e melado de cana que chega ao mercado nesta quinta (21). “Queríamos uma cerveja que quebrasse estigmas e que fosse um convite à reflexão”, diz Sara.
“Chegou-se em consenso entre os sommeliers de que [o estilo] deveria ser bem aromático, que trouxesse na sua construção elementos que dialogassem com muita brasilidade. Desse modo, escolheu-se frutas como caju, cajá e coco, sendo este último, produto do lúpulo utilizado. A escolha por uma cerveja cheirosa, teve como norteador opor-se ao mito de que pessoas negras não cheiram bem”, comentou o trio de sommeliers.
Até o fim do ano também serão lançadas a Kintu (uma New England IPA feita com lúpulos sul-africanos) e a Mantu (uma versão da Hantu envelhecida em barrica).