Conheça as small beers, cervejas com baixíssimo teor alcoólico

Que tal diminuir o consumo de álcool sem deixar de tomar sua cerveja artesanal (com moderação)?

Não, não estamos falando das versões zero álcool, ainda que a oferta delas esteja aumentando, e ganhando em qualidade. A sugestão aqui são as “small beers”. A tradução mais simplória, e carinhosa, poderia ser apenas “cervejinhas”, nome muito usado no boteco de cada dia pré-pandêmico. Mas não é bem o caso.

As “small beers” são cervejas com baixíssimo teor alcoólico, até 2,8%, no máximo. Não são exatamente novidades. Elas começaram lá na Idade Média, com destaque no século 18, no Reino Unido, e tiveram sua importância histórica (falemos da história mais abaixo). Nos últimos anos elas ressurgiram tanto na terra da rainha (que tem cervejarias especializadas em “small beers”) quanto nos Estados Unidos.

Quem começou a fazer as experiências por aqui com mais afinco durante a pandemia foi Júnior Bottura, o cara por trás das fórmulas da premiada Cerveja Avós, especializada nas cervejas lagers, de baixa fermentação.

“Fizemos a primeira em abril do ano passado, a Citrus Dew, uma cerveja super delicada”, lembra Bottura sobre o início da série batizada de Small Lagers. A Citrus Dew tinha apenas 1,9% de ABV (o teor alcoólico). 

Para se ter uma ideia, em termos de comparação, a Skol disponível no supermercado mais perto de você tem 4,4% de álcool; a Bohemia, 5%, assim como a Heineken e a Stella Artois do Brasil (a inglesa tem 4,6%). 

Atualmente tem outras duas sugestões disponíveis nas torneiras da Avós. A Amber Galaxy (usa o lúpulo Galaxy), uma red lager com 2,2% de álcool, na qual Bottura conta que utilizou maltes especiais —além de saborosa, ganhou uma bela coloração avermelhada. E fez tanto sucesso que ainda não saiu do portfólio.

A novidade mais recente é a Before Noon, que brinca no nome (“antes do meio-dia”) com a ideia de você poder tomá-la logo de manhã. Isso porque o ingrediente protagonista do rótulo é o café. “Fizemos uma cerveja escura e um cold brew… Parece muito mais um cold brew do que propriamente uma cerveja”, brinca Bottura sobre a versão, que tem 2,0% de teor alcoólico.

Brewpub inaugurado durante a pandemia, o Tank, em Pinheiros, também já ensaia suas “small beers”. A primeira é a Biggie Smalls, uma lager com 2,5% de álcool, com boa presença de malte. “Foi super bem recebida aqui”, comemora Julia Fraga, que comanda a casa. “Sempre tem consumidor que procura algo com baixo teor alcoólico”, conta.

A inspiração veio de rótulos similares em cervejarias americanas, mas Julia afirma que “nós mesmos sentimos a necessidade de beber algo com menor teor alcoólico e fazer o momento mais leve… Nem sempre o ato de beber tem que ser pesado e alcoólico”, conclui.

Ali perto do Tank Brewpub, no largo da Batata, a Goose Island Brewhouse também faz suas investidas no gênero. Com a parceria do próprio Bottura, a cerveja de Chicago criou duas opções, a Lil John, uma session baltic porter com 2,8% de ABV (no limite do teor alcoólico das “smalls”), e a Little Risk, session stout com 2,5%, uma cerveja escura como as tradicionais stouts, mas de corpo mais leve.

Onde encontrar as small beers (confirme horários de funcionamento antes de sair de casa):

Casa Avós – R. Croata, 703, Vila Ipojuca, região oeste. Qua. a sáb.: 12h às 21h. Dom.: 12h às 16h. Pedidos pelo tel. 3672-4282 e WhatsApp (11) 95058-7879. deliverydireto.com.br/cervejaavos/cervejaavos.

Tank Brewpub – R. Amaro Cavalheiro, 45, Pinheiros, tel. (11) 93208-2352. Ter. a qui.: 12h às 21h. Sex. e sáb.: 12h às 22h. Dom.: 12h às 20h. Pedidos online pelo link deliverydireto.com.br/tankbrewpub/tankbrewpub. App disponível em Android e IOS.

Goose Island Brewhouse – r. Baltazar Carrasco, 187, tel. 2886-9858. Confirme horário de funcionamento antes de sair de casa, ou peça pelos aplicativos de delivery

 

Um pequeno registro histórico das ‘small beers’

O movimento das “small beers” está longe de ser uma novidade. Nasceu na Idade Média, na Europa, e ganhou força no Reino Unido entre o fim do século 17 e o século 18 —passando depois para a colônia americana.

Reza a lenda que a cerveja era uma boa alternativa, e saudável, em tempos em que a água era suja, com odor desagradável. Já a “água cervejeira” usada para a bebida era fervida. Essa cerveja consumida durante as refeições não tinha nem 1% de álcool e continha até nutrientes (trigo, centeio, pão).

Empresas da região portuária também viram nas “small beers” uma boa opção às parrudas stouts e porters, consumidas em grande quantidade pelos trabalhadores nos pubs próximos. Assim começaram a incentivar a produção das “smalls”. O próprio governo incentivou ao passar a calcular o imposto sobre a cerveja pelo teor alcoólico, deixando as “smalls” bem mais baratas e acessíveis à classe trabalhadora.